Há uma parte da direita no Brasil
que quer, de fato, dar um golpe. Mas chegamos a um momento em que a esquerda,
defendendo o PT, só consegue ajudar cada vez mais os golpistas. Mas como?
Antes de começar, vamos imaginar a
seguinte cena:
A casa começou a pegar fogo. Várias
pessoas lá dentro, sem saber muito para onde ir, procuram uma saída. Um sujeito
lá no meio, que vamos chamar de Pessoa 1, aponta para um corredor e grita para
todos:
- Venham para cá! A saída é por
aqui!
Outra pessoa, a Pessoa 2, sabe que
aquele caminho não levará a lugar nenhum, e que provavelmente se forem por lá
acabarão todas vitimadas pelo incêndio. Então ela diz:
- Não! Aquele é o caminho errado!
Não há saída por lá!
O grupo de pessoas, atônito, mas
confiando no alerta da Pessoa 2, então pergunta:
- Qual é o caminho da saída então?
Para onde devemos ir?
E a Pessoa 2 imediatamente responde:
- Melhor não fazermos nada. Vamos
ficar todos aqui parados. Vai ficar tudo bem.
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O que essas pessoas fariam? Ficariam
lá paradas, vendo o fogo aumentar e a casa cair sobre suas cabeças? Ou
tentariam a sorte, seguindo a Pessoa 1, mesmo com as advertências da Pessoa 2?
A crise política pela qual passamos
hoje no Brasil tem algo de muito parecido com essa situação. É possível ver, na
Pessoa 1, o PSDB (ou MBL, ou Bolsonaro) se aproveitando de uma situação de
catástrofe e de desespero das pessoas para prometer uma salvação, mas
obviamente sem dizer que o caminho apontado só leva a outra parte da mesma casa
em chamas.
Também é possível identificar na
Pessoa 2 a militância e os apoiadores do PT. Diante do risco de as pessoas
seguirem para um caminho sem saída (que, concordemos, é um risco real), ela
tenta convencer a todos de que o problema não é tão grande assim. Tenta convencer
a todos de que ninguém vai morrer no incêndio, mas só se ficarem ali parados e não
seguirem a Pessoa 1.
São duas propostas que não são tão
diferentes. Por diferentes caminhos, ambas levam ao mesmo destino. Mas, para as
pessoas que estão lá sob o incêndio, não parecem assim tão parecidas. A
primeira propõe uma mudança que leva a outro lugar, que pode ou não ser uma
saída; a segunda propõe que as pessoas aguentem as coisas como estão.
Parece um tanto claro que, só
existindo essas duas opções, as pessoas decidam acompanhar aquele que indica um
caminho novo, ainda que seja bastante possível que o caminho seja uma furada. É
fácil aqui entender como a posição de apoiar o PT nesse cenário só ajuda o PSDB
e outros grupos de extrema direita a se tornarem uma referência.
A necessidade de mudança não é algo
que foi inventado pela direita ou por quaisquer críticas ao governo, e nem
mesmo pela grande mídia. A necessidade de mudança que as pessoas sentem é algo
muito material: cortes de direitos, privatização da saúde e da educação,
aumento dos preços, falta de acesso a moradia e transporte, criminalização da
população pobre, negra, indígena. Em suma: a casa está pegando fogo, e as
pessoas não precisam ser convencidas de que uma saída é necessária, elas já
sabem disso. O que possibilita à mídia e à extrema direita apontar uma saída e
conseguir ganhar as pessoas tão facilmente é a falta de outra alternativa. Se
apoiamos o PT, essa alternativa continua faltando. Ganha a direita.
A única possibilidade de combater a
direita é, portanto, construir uma alternativa política a partir das lutas por
direitos, da luta por moradia, por empregos dignos, melhores salários, contra
os cortes nos investimentos sociais, contra a reforma da previdência. Ou seja,
a única forma de combater a velha direita do PSDB e a extrema direita que sonha
com um golpe é nos unificarmos em lutas que são também contra o governo de
Dilma e do PT.
E, se a forma de combater essa
direita golpista é a construção de uma nova alternativa de esquerda e de lutas,
fica claro que essa é também a única forma de defender a democracia. Além do
que seria uma ironia usar o argumento de democracia para defender um governo que
só se lembra da democracia quando corre o risco de cair, e que em outros
momentos está de mãos dadas com os golpistas reprimindo movimentos e
sustentando toda a violência do Estado.
Ah, tá... você está com o fogo na sua bunda e vai esperar a pessoa 3 (alternativa de esquerda, que nem existem ainda na história) te salvar... acho que essa sua "alternativa" é pior para esse incêndio do que as 2 anteriores. A esquerda que se omite não representa ninguém!!!
ResponderExcluirO comentário é bem ilustrativo do fla-flu que virou a defesa do PT.
Excluir"Se você não concorda comigo, então você está em cima do muro; a esquerda que não concorda com o PT é a esquerda que se omite".
Tendo a concordar com Mavi pelos seguintes motivo:
ResponderExcluira) A esquerda ainda não se constituiu como opção concreta viável para a maioria dos brasileiros. Seja discursiva, seja cotidianamente enquanto projeto de país. Óbvio que isso se deve ao papel estrutural do capitalismo e suas estratégias. Mas há também a real proximidade do proletariado que não foi construída;
b) Ainda estamos no capitalismo. O que quer dizer que a democracia não basta enquanto projeto de futuro sem capitalismo, mas, na presença dele, precisamos radicalizar a democracia e seus instrumentos. A opção de esquerda não se constituiu esses anos todos e não se constituirá nos próximos meses. Mas retrocessos no campos dos direitos podem ser decididos em horas e pode acirrar as desigualdades mais profundamente.
Então, o compromisso da esquerda não deve ser apenas com a construção de uma outra sociabilidade, mas com a luta de classes hoje e agora, com a melhora das condições de vida e trabalho hoje e agora.