sábado, 15 de março de 2014

Da amiga Dandara

Publicação da amiga Dandara
Com quem espero estar junto
E junto com tantos outros
Transformando a luta em prática, incendiando esse mundo
E construindo um novo

"
É tão bizarro como sentimos falta de algo que não vivemos, que aconteceu quando éramos crianças ou quando nem tínhamos nascido. Legião Urbana foi uma das bandas que marcou minha adolescência, era a banda favorita de um dos meus melhores amigos daquela época, e cada música lembra uma situação. Ontem não teve como não lembrar de Caldas Novas e de uma certa galera, de como um bando de adolescentes achavam que discutiam filosofia e política, bebendo Rustoff com kisuco. Nas conversas com esses malucos eu imaginava como seria na faculdade, se aquelas discussões poderiam virar em alguma coisa.
Hoje, convivendo (tardiamente) com outro grupo de pessoas (malucas), de novo discutindo filosofia e política diariamente, vem o mesmo frio na barriga da adolescência, só que agora as coisas não estão mais só no campo das ideias, queremos incendiar tudo, e com eles eu me sinto fazendo algo, e principalmente, viva.

"Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.

Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia
"Sempre em frente,
Não temos tempo a perder".

Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem,
Selvagem;
Selvagem.

Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus
Olhos: castanhos.
Então me abraça forte e,
Me diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo,
Temos nosso próprio tempo,
Temos nosso próprio tempo.

Não tenho medo do escuro,
Mas deixe as luzes acesas agora,
O que foi escondido é o que se escondeu,
E o que foi prometido,
Ninguém prometeu.

Nem foi tempo perdido;
Somos tão jovens,
Tão jovens,
Tão jovens"
"

quinta-feira, 6 de março de 2014

Para nos abrir ao mundo

A paixão isola
O amor abre para o mundo
A paixão prende
O amor liberta
A paixão ceifa outros amores
O amor alimenta outros amores

quarta-feira, 5 de março de 2014

Diga espelho meu se há na avenida

Hoje foi um dia daqueles de pensar na vida

E se eu estava com medo de ser quem eu sou
Se ecoava ainda na minha cabeça a história de que ser assim
Me traria sofrimento
Vi que existe mais gente no mundo - além dos amores que já são parte da vida -
Que vê meus olhos grandes
E gosta deles assim, por serem assim como são

E vi que existe mais gente no mundo
Que se deixa contagiar pela liberdade
E que dá - e se deixa receber - abraços, sorrisos e carinhos sinceros
E que também deixa levar seu corpo - em meio aos outros -
Por toques, olhares, sensações

E afirmo, sem dúvidas, que
Apesar de às vezes existir sofrimento na liberdade
Há gente que reafirma assim mesmo a liberdade.
E isso é bom.

Hoje foi um dia daqueles de pensar na vida. E acabo pensando
"Olha só que tipo de coisa me acontece!
Como eu estou fazendo as coisas certo!"

E reafirmo quem eu sou, e meus amores.
E meu modo de vida
 
E a primeira luz da manhã entra oblíqua pela janela
E marca no rosto dela um sorriso cansado, sincero, sensível
Não posso deixar de me entregar também a um sorriso
Que me contamina e invade todo o meu rosto. Sentimento bom.

Comentário sobre a postagem abaixo

(um comentário que um grande amor me mandou sobre o texto da última postagem. Linda!)

Sua atitude, envolver a moça com afeto, com vida, foi a melhor resposta frente a esse tipo de situação. Afeto dá vida e produz mudanças.
Sentir-se acolhida possibilita ver as coisas com menos medo. Que bom que você estava com ela nesse momento.
E sobre essas pessoas que não se deixam amar por preconceito, espero que o amor as remate. Que lhes pegue desprevenidas andando na rua. Que seja intenso e duro, não opressor, mas libertador. Afinal a liberdade se conquista assim, no muque, rs.

 
N

Um dia, as duas piores opressões

(texto antigo, sendo publicado agora)

Ontem foi um dia muito bom. Aprendi coisas comigo mesmo que há muito tempo precisava ter aprendido. Participei de coisas que há muito tempo queria ter participado. E me senti parte do processo.

Mas mesmo nos avanços nos deparamos com limitações
E ontem tive contato com as duas formas de opressão que mais me doeram ao longo da vida.

(Talvez se pense que sou um tanto heterodoxo.
É certo que o que vou dizer aqui não é reconhecido amplamente como opressão.
Mas é certo que é.)

--

Depois de danças, olhares e diferentes formas de aproximação
Ela se fez entender.
Me queria e sentia, por certo, algum tesão por mim.
Se aproximou alegre e se afastou receosa
Por uma, duas, três vezes.
Me prendeu entre as pernas e me beijou. E negou. E beijou.
E continuou a negar.
Não entendi a princípio. Perguntei.
O que estaria acontecendo? Qual a dúvida? Qual a contradição?
Qual o medo?
Ela não conseguiu dizer.
Mas eu sempre soube. Por um momento, achei que podia não ser,
Achei que o motivo seria outro.
Mas não.

(Antes de tudo isso, um menino bastante desorientado, com a melhor das intenções, disse que ser assim como sou traria muito sofrimento)

E era isso.
Ela queria.
Tinha tesão.
Mostrava, expressava, beijava
E tudo mais.
Mas o problema era esse:
Ficar com alguém assim como eu sou.
Ora, como? Como pode uma menina tão feminina
estar com alguém assim como eu sou?

Eu, só por ser assim como sou, ameacei sua feminilidade
Ela queria.
Mas tinha medo.
Eu, assim, sou ameaçador.
E ela exibia, tanto quanto o tesão,
Toda a aflição
Que sentia.

Mas, apesar de eu sofrer dessa opressão
Do não-se-poder-ficar-com-quem-se-quer,
Compreendo de onde vem essa aflição.
Já senti algo assim.
Era preconceito, eu sei, e medo, medo da vida,
Aquele medo que o tempo todo tenta se sobrepor à vontade e que traz essa aflição.
Aquele medo que vem de um sentimento moral.
Já senti.
E sei como é.
E espero que quem sente,
Que quem deixa de fazer - ou ficar - por esse medo,
Espero que aprenda,
Que relaxe
E que possa fazer sua vontade. Livre. Sem aflição.

Eu nunca perdoarei essa moral
Que aflige as pessoas que ficam com quem querem
Que aflige quem mostra carinho por outrem
Só pelo outro ser como é.

--

Ora, mas ainda mais uma situação opressora presenciei esse dia. Não foi comigo diretamente, mas inevitavelmente me solidarizei.

E ela, depois de tudo o que já contei,
Sentiu algo que é muito comum
Mas que todos se conformam em sentir
E ninguém vê como opressão.
Ela sentiu o que é ser propriedade, se assujeitar à vontade de outrem,
Sentiu o que é não ter seus critérios sobre si própria respeitados
Sentiu como é sua opinião não valer se não contempla a opinião do outro.
Sentiu como é sua decisão não valer se não coincide com a decisão do outro.
Sentiu o que - na sociedade em que vivemos - significa ser filho.
(Ou ainda mais: filha)

Não pôde decidir onde dormiria,
Não pôde avaliar onde estaria segura.
Depois de uma conversa com a mãe.

A mim não existem dúvidas
De que eu ficaria a seu lado nessa situação.
Ainda que tivesse me feito sentir mal em ser aquilo que sou,
Não poderia eu simplesmente me ausentar frente a uma opressão que ela sentia

E tentei, com o toque, com a liberdade, com a relação corporal que não se pode dar outro nome que não vida,
Mostrar que, mesmo assujeitada, era sujeito;
Que, mesmo feita objeto, era pessoa.

--

(Se parece grandiosa ou exagerada a forma com que trato coisas que parecem tão cotidianas e banais, isso é mais um sinal de como se internaliza e se acostuma com a opressão. Qualquer que seja, a opressão é sempre terrível, e a tratarei com a ênfase correta: como algo grande, forte, pesado. Apesar de não culpar o autor direto de um episódio opressivo, nunca deixarei com que se torne um fato normal e ameno)

--

Tive contato, e senti intensamente, duas formas de opressão em um só dia.
As duas piores formas de opressão que já vivi na vida.
E cada dia desses me faz ter mais certeza de minha luta pela liberdade.
E cada dia desses me faz ter mais clareza e maturidade para conquistá-la.