quinta-feira, 17 de março de 2016

Por que defender o PT nessa crise política só ajuda a direita?


Há uma parte da direita no Brasil que quer, de fato, dar um golpe. Mas chegamos a um momento em que a esquerda, defendendo o PT, só consegue ajudar cada vez mais os golpistas. Mas como?

Antes de começar, vamos imaginar a seguinte cena:
A casa começou a pegar fogo. Várias pessoas lá dentro, sem saber muito para onde ir, procuram uma saída. Um sujeito lá no meio, que vamos chamar de Pessoa 1, aponta para um corredor e grita para todos:
- Venham para cá! A saída é por aqui!
Outra pessoa, a Pessoa 2, sabe que aquele caminho não levará a lugar nenhum, e que provavelmente se forem por lá acabarão todas vitimadas pelo incêndio. Então ela diz:
- Não! Aquele é o caminho errado! Não há saída por lá!
O grupo de pessoas, atônito, mas confiando no alerta da Pessoa 2, então pergunta:
- Qual é o caminho da saída então? Para onde devemos ir?
E a Pessoa 2 imediatamente responde:
- Melhor não fazermos nada. Vamos ficar todos aqui parados. Vai ficar tudo bem.

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O que essas pessoas fariam? Ficariam lá paradas, vendo o fogo aumentar e a casa cair sobre suas cabeças? Ou tentariam a sorte, seguindo a Pessoa 1, mesmo com as advertências da Pessoa 2?
A crise política pela qual passamos hoje no Brasil tem algo de muito parecido com essa situação. É possível ver, na Pessoa 1, o PSDB (ou MBL, ou Bolsonaro) se aproveitando de uma situação de catástrofe e de desespero das pessoas para prometer uma salvação, mas obviamente sem dizer que o caminho apontado só leva a outra parte da mesma casa em chamas.
Também é possível identificar na Pessoa 2 a militância e os apoiadores do PT. Diante do risco de as pessoas seguirem para um caminho sem saída (que, concordemos, é um risco real), ela tenta convencer a todos de que o problema não é tão grande assim. Tenta convencer a todos de que ninguém vai morrer no incêndio, mas só se ficarem ali parados e não seguirem a Pessoa 1.
São duas propostas que não são tão diferentes. Por diferentes caminhos, ambas levam ao mesmo destino. Mas, para as pessoas que estão lá sob o incêndio, não parecem assim tão parecidas. A primeira propõe uma mudança que leva a outro lugar, que pode ou não ser uma saída; a segunda propõe que as pessoas aguentem as coisas como estão.
Parece um tanto claro que, só existindo essas duas opções, as pessoas decidam acompanhar aquele que indica um caminho novo, ainda que seja bastante possível que o caminho seja uma furada. É fácil aqui entender como a posição de apoiar o PT nesse cenário só ajuda o PSDB e outros grupos de extrema direita a se tornarem uma referência.
A necessidade de mudança não é algo que foi inventado pela direita ou por quaisquer críticas ao governo, e nem mesmo pela grande mídia. A necessidade de mudança que as pessoas sentem é algo muito material: cortes de direitos, privatização da saúde e da educação, aumento dos preços, falta de acesso a moradia e transporte, criminalização da população pobre, negra, indígena. Em suma: a casa está pegando fogo, e as pessoas não precisam ser convencidas de que uma saída é necessária, elas já sabem disso. O que possibilita à mídia e à extrema direita apontar uma saída e conseguir ganhar as pessoas tão facilmente é a falta de outra alternativa. Se apoiamos o PT, essa alternativa continua faltando. Ganha a direita.

A única possibilidade de combater a direita é, portanto, construir uma alternativa política a partir das lutas por direitos, da luta por moradia, por empregos dignos, melhores salários, contra os cortes nos investimentos sociais, contra a reforma da previdência. Ou seja, a única forma de combater a velha direita do PSDB e a extrema direita que sonha com um golpe é nos unificarmos em lutas que são também contra o governo de Dilma e do PT.
E, se a forma de combater essa direita golpista é a construção de uma nova alternativa de esquerda e de lutas, fica claro que essa é também a única forma de defender a democracia. Além do que seria uma ironia usar o argumento de democracia para defender um governo que só se lembra da democracia quando corre o risco de cair, e que em outros momentos está de mãos dadas com os golpistas reprimindo movimentos e sustentando toda a violência do Estado.