quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O momento em que se pode expressar

Você está lá, nos meus braços, aconchegada sob a penumbra e o cansaço. O cansaço é muito, mas ainda assim você exagera, talvez querendo esconder algo. Seu corpo macio se conforta em mim. E a menção de um sorriso já quase inconsciente me traz um momento mais de alegria. No momento seguinte seu pensamento se deixa ir e seu relaxamento pressiona meu corpo.

Mas sua respiração feliz e suave dá lugar a um ofegar quase bufante, transmitindo a tensão pelo ar. Seus dentes estalam. E estalam novamente.

Os espasmos espalham por seu corpo, tão intensos que parece lutar. Só se limita na maciez da fronteira de nossos corpos, que tenta sobreviver. Você não mais me responde.

Dorme.

Dorme em aparência de agonia. Mas quão gostoso deve ser esse sono, que libera tudo isso que estava preso nesse corpo tão doce. Como parece necessário dissipar toda essa tensão que escondia em você.

E que escondia você.

Minha querida, o que há aí dentro que te faz tão mal? O que você usa tanta força para esconder, que só no sono pode se expressar?

O que está em você, e o que te faz feliz?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Amores serão sempre amáveis

Não acredito mais no amor.
O amor, no mundo que existe hoje, é uma impossibilidade lógica. O amor só pode existir e se sustentar se existir liberdade para acontecer e se expressar. Ora, é impossível falar de amor de forma verdadeira quando existe uma forma dada e fixa para se comportar e para sentir. O amor só é amor quando é espontâneo, e um comportamento só pode ser subsequente ao amor quando não é estereotipado ou programado por algum tipo de imposição ou restrição moral.
Mas hoje o amor é uma fonte necessária de falta de liberdade. Hoje, a partir do amor - ainda que seja real e espontâneo - , se criam necessidades de estereotipia nos comportamentos, e de restrição dos sentimentos. Em outras palavras, dialeticamente, a própria existência do amor nega sua possibilidade. O capital faz com que a restrição nasça até daquilo que é necessariamente livre.

E não existe quem, individualmente, fuja disso. Por mais que alguém se coloque contra determinados moralismos e se liberte de muitas restrições colocadas por nossa sociedade, ainda somos pessoas do capital, e vivemos em uma sociedade do capital.

(Não é uma saída juntar os amigos e montar um Kibutz de amor-livre. Isso é tão individualista que por si só já mostra como não se libertou da moral do capital. Mas isso merece um texto à parte).

E ainda que alguém individualmente se coloque fora da moral em muitos aspectos (afinal, não vejo como uma possibilidade real sair dela completamente), esse alguém ainda convive com e depende de uma sociedade que cultua essa moral. Por mais que consiga se libertar e expressar um amor honesto, esse amor vai ser combatido pelas próprias circunstâncias de sua expressão.

Os amores que amo, deixo-os para o futuro. Aprendi a amar com restrições. Aprendi a não acreditar no amor. Mas aprendi também a beleza da dialética. E o não acreditar no amor me faz ver como minha luta pelo amor real é factível.
Os amores que hoje existem, estereotipados, contraditórios, restritos, até reprimidos.. esses amores serão vividos fragmentários, e trarão tanta felicidade quanto as contradições permitirem. Mas as contradições mostram as falhas, e as infelicidades estruturais do amor atual podem ser vistas, sentidas, e dão sentido, então, para a luta.
E meus amores de hoje.. muitos deles deixo passar. Dói-me deixá-los, mas é uma dor que me motiva. Sou obrigado à restrição, à estereotipia. E as pratico, como todos. Mas para mim só há sentido nessa dor porque ela me motiva a lutar. E, de minha luta, sei que construirei um amor mais livre, mais solidário. Sei que a luta, não só minha mas de muitos, vai possibilitar o amor real, e criar condições para que a moral não faça do amor uma impossibilidade lógica. E da dor que sinto ao expressar menos o amor hoje nasce a satisfação de que esse amor ainda será amado. Talvez não por mim, mas ainda por mim: será amado.

Todo sentimento que hoje se esconde, se desvia, se reprime, se fragmenta.. todo ele será expresso plenamente. E, cada vez que preciso respirar mais fundo e não me deixar entregar, tenho certeza que os futuros amantes se amarão livremente (e sem saber) todo esse amor que um dia deixei.

Algumas coisas... só aprendemos após a derrota


A Mari foi uma das primeiras pessoas pelas quais me apaixonei. Foi forte. Tão forte que, muito tempo depois que não nos víamos, quando lembrava dela sentia ainda aquelas coisas de quem está apaixonado. Mas eu era extremamente inseguro. Não ligava pra ela. Quando ligava, não sabia o que falar. Ao propor para nos vermos, eu o fazia quase me desculpando. Não sabia o que ela pensava sobre nós, não sabia o que ela sentia por mim, e então o que eu sentia se anulava. Se retraía, com medo não-se-sabe-de-quê. Passava às vezes na A1, casa dela. Mas cada vez menos. E ligava cada vez menos. Era tão, tão importante. E eu não dizia nada, não fazia nada, não me colocava, não ia atrás do que queria.

Até que não existia mais nada.

Como eu fui idiota! Consegui acabar com qualquer possibilidade de uma paixão, só por ter medo dela.

Mas quando percebi que não havia nada, e que, tendo medo de sentir o que sentia, deixei com que tudo se esvaísse, aprendi.
Aprendi que não era problema ir atrás do que eu queria. Percebi que não era vergonha querer. Aprendi que não tinha sentido amar e, por medo de não ter o amor, não o assumir.

Já há muito tempo eu repetia que "se você vai atrás de algo, pode ser que consiga ou não, mas se não vai com certeza não conseguirá". Mas, como quase todo aprendizado, mesmo sabendo dessa conclusão óbvia, não pude agir dessa forma. Pelo contrário, tive a dura aprendizagem pela experiência objetiva. Só compreendi, senti e incorporei o que significava isso quando tive o choque de perceber que eu tinha aceitado que as coisas passassem, da forma mais passiva possível.

--

Muito tempo depois a encontrei. Sem querer, sentei para estudar na mesma mesa em que ela lia. Havia tirado os dreads, quase não a reconheci. Dissemos oi, conversamos um pouco sobre a vida. Ela me olhava como quem tinha uma lembrança - longínqua, mas ainda uma lembrança - do que acontecera entre a gente. Nas falas, um ligeiro constrangimento daqueles que aparecem quando encontramos depois de muito tempo alguém que foi tão próximo. Em minha cabeça, inevitavelmente, pensava em como poderia ter sido. Será que ainda seria possível, depois de tanto tempo, e com tantas experiências nos separando, reviver algo? Vamos trocar telefones, ver se nos encontramos um dia qualquer? Conversamos por bem pouco tempo, só uma troca de palavras. Me levantei, minha companheira me esperava lá perto.

Nunca mais a vi.

domingo, 25 de novembro de 2012

Para além de mudar as coisas

Ela: Por que você luta?

Ele: Para suprimir dos dicionários a palavra "solidariedade".

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Lembrando do poema de Thiago de Mello

"
     Artigo Final. 

     Fica proibido o uso da palavra liberdade,    
     a qual será suprimida dos dicionários    
     e do pântano enganoso das bocas.    
     A partir deste instante    
     a liberdade será algo vivo e transparente    
     como um fogo ou um rio,    
     e a sua morada será sempre    
     o coração do homem.

"
(Estatutos do Homem, 1964)

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Que a solidariedade se torne algo tão comum e naturalizado que não se faça mais sentido falar nela.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Postagem ao seu estilo

Me manda um texto sobre política e sobre loucura. Bom o texto.
Tenho saudade do seu blog, e leio.

(Escrevi sobre vc em meu blog. Aliás, blog me lembra você. Escrever me lembra você, escrever essas coisas legais, da vida, da gente. Escrever do fundo do coração me lembra você.
E hoje fiquei com ciúmes. Não que vc deva se preocupar com isso, fico sempre com ciúmes. Fiquei já de mim mesmo, lembra? he.
Não que deva se preocupar com isso, mas queria falar. Queria falar como às vezes quero falar, porque assim me sinto mais próximo. Imagino que não vá mudar nada, mas mesmo assim me sinto mais próximo, nessa relação que não consigo compreender. Escrevo pra driblar um pouco a distância, e até a grosseria com que vc às vezes me trata. Às vezes penso se vc não é assim mesmo, e às vezes lembro que não.
Enfim, fiquei com ciúmes. Não sei mais se escreve pensando em mim. Mas quando li, me vi em suas palavras, vi muito daquilo que já me escreveu (e que então eu sabia que aquele era eu). Diz que não vai se jogar novamente, pois sabe do tombo. Penso se seria para mim. Não fico triste se não for. Mas se sim me alegro. (Apesar de muita coisa, escreve de mim com carinho?)
Mas depois penso se era mesmo de mim aquela lembrança que, apesar de longínqua, de alguma forma conforta. Seria já muito distante e louca essa idéia. Provavelmente não. Às vezes uma loucura me dá de estar mais próximo, e não compreendo. E por não compreender concluo que é apenas loucura. Vejo que eu era "o homem que amei".
O meu ciúmes, você sabe, não quer censurar você nuca, e nem te constranger de forma alguma. Mas pelo contrário. Fico feliz de ver você com suas coisas, com suas novas paixões e sua vida. Ainda me dói muito - e só isso - não saber mais se faço parte dela.
Blog me lembra você. E o seu é o único que leio.
Como já disse em outros posts, estou por lá.
E hoje me lembro de ficar horas escrevendo.)

- Bom o texto.
;)
Preciso ir, reunião pra fechar a chapa do CA

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sobre meu filho

Estava pensando hoje..

Daqui a um tempo, meu filho, ainda novinho mas muito esperto, volta da escola. Ele não entende quando o colega diz que vai pedir autorização para a mãe para ir lá para casa.

Orgulho do meu pretinho!
:D

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E quantos libertários ainda acham natural que os pais mandem nos filhos!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Por um novo modo de vida!

Um mundo em que esse amor não é possível
É um mundo que não é possível

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E como eu queria não dizer mais isso!

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Bem vindos ao "Modo contra o medo"!
Fiquem à vontade! Leiam, comentem!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ofuscação

Surgiu então essa pessoa na minha vida
Tão brilhante
Ofuscou a vida
E ficou só ela

Sobre o respeito consigo mesm@

Quando eu era criança, era muito comum ouvir mães de meus colegas e amigos dizerem a seus respectivos filhos
"Você não tem querer"

E cresceram sem querer
Tod@s nós crescemos sem querer

E vamos crescendo, e aprendendo então o que podemos querer.
E querem então formar família, cada qual a seu modo. Querem um futuro seguro, querem sobriedade.

Mas o capital não tira completamente seus quereres mais intensos, que fogem à sobriedade. Não tira completamente aqueles quereres pelos quais esperneavam quando crianças e contra os quais suas mães falavam a frase que me recuso a repetir novamente.
O capital não pode suprimir esses quereres. Não porque sejam naturais e insuprimíveis, mas porque perversamente o próprio capital os impõe enquanto proíbe.

Nos filmes há paixões de intensidade infinita, nas novelas há famílias felizes que gozam lindamente do companheirismo que têm seus membros um pelo outro. Nas músicas busca-se um lindo amor. Até os lamentos de solidão, as intrigas e brigas, as separações e o ódio - até os elementos negativos somente ajudam a sustentar (pela aversão) um modelo dos quereres que se impõem. Mas igualmente são impostos e inalcançáveis.

E quando se impõe a paixão arrebatadora sobre a menina, e ela quer se entregar de corpo e alma, estranhamente o "não pode" surge e a impede. Mais estranhamente, a proibição tem a própria voz da dona desse coração em fúria.

E quando se impõe a paixão arrebatadora sobre o menino, e ele quer se entregar de corpo e alma, estranhamente o "não pode" surge e o impede. Mais estranhamente, a proibição tem a própria voz do dono desse coração em fúria.

Mas nem a paixão - que é a única forma possível de expressar uma vontade que é tão reprimida - nem a paixão resiste a tanta repressão ao longo da vida. Quando se reprime a si mesmo se machuca. (E a repressão não é nunca questionada, afinal, o que mais normal que ela?). E conclui-se que a paixão, e junto com ela todo o querer, é mau. São portanto gradativamente suprimidos completamente.

O querer se torna então apenas mesmo a segurança, a sobriedade. O máximo da felicidade se torna não estar triste.
E o querer e a indiferença se tornam a mesma coisa, se confundem e intercambiam. Não se sabe mais o que quer, e não há força ou ânimo para alcançar o que se quer.

Porque, afinal, eu quero, mas tanto faz.

E então nem sequer se sabe o que se quer.

Vou brigar até o fim dos meus dias contra essa falta de consideração para consigo mesm@. E falo mesmo de forma genérica, pois não é uma questão individual. É a contradição e a perversidade do capital se entranhando em nossas vidas cotidianas, em nossos relacionamentos e em nossa forma de amar.

E vou brigar pela intensidade, pela expressão e organização comunal dos quereres individuais, e contra as imposições do capital! Pela possibilidade de expressão de toda paixão, e pela permissão social para amar!

A repressão do capital não é nossa, e nem seus quereres!

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O futuro é certo se nele juntos colocamos a revolução

E hoje
Naquela escada que viu tantas despedidas difíceis
E tantos desentendimentos, choros e abraços desesperados

Um abraço forte de saudade
Um sorriso, um 'bom te ver'

E a promessa de um futuro de companheirismo sem igual

(E por que não dizer novamente, baixinho, aqui, só pra você - apesar das turbulências, mas sem correr nenhum risco de errar - 'te amo')

sábado, 1 de setembro de 2012

Voltando à vida

Às vezes é triste sentir a vida correndo correndo por nossas veias novamente.
Mas a sublimidade da vida está acima do feliz e do triste.
É a vida.
E é bom.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Em nome da felicidade

Estava conversndo ontem com um amigo, que me fez refletir sobre algo que circunda meus pensamentos de sempre, mas que nunca tinha me dado conta.

Ter alguém em meus braços cujos olhos brilham para outra pesoa não dói tanto quanto ter alguém cujos olhos brilham para mim nos braços de outra pessoa.
Ele disse que eu era uma pessoa muito boa por sentir isso.

Para mim, perder alguém por causa de uma moral repressiva é pior do que a insegurança de poder perder alguém de forma sincera.

Será que é isso mesmo?

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pequena observação sobre a postagem abaixo

(Depois de conversas com algumas pessoas, achei interessante publicar uns questionamentos, quem sabe alguém não tem umas respostas?)

Achei importante diferenciar o Amor da Paixão (e sua violência), porque algo que vejo muito é a negação do Amor quando se identifica que a Paixão é problemática.

Ora, mas quais são as coisas que estão no campo do Amor, e quais estão no campo da Paixão?

A intensidade deve ser negada quendo se nega a Paixão?
E a urgência? A entrega?

?

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Uma violência sutil contra o Amor

(Esse texto se trata de algo que percebi recentemente e não tenho certo ainda o que penso sobre. É uma polêmica comigo mesmo. É um sentimento, ainda a ser compreendido e lapidado, ou até esquecido. E aceita opiniões de quem compreendê-lo.)



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Sempre defendi a Paixão, e que se a sentisse da forma mais intensa e profunda.
Pensava que a Paixão também era parte da Vontade.

(E, tratando do modo de vida, a Vontade é algo a ser defendido. Não aquela vontade individualista e mesquinha, ou aquela vontade imediata e inconsequente, mas uma Vontade construída coletivamente e que se reprime apenas por uma moral conservadora: essa sim deveria ser sempre realizada.)

Mas hoje percebi como é violenta a Paixão.

É violenta com aquele que a sente: rouba e imobiliza sua alma; impede o exercício da própria Vontade; inebria e atrapalha um encontro com o ser amado, substituindo-o por um ideal.
A Paixão faz com que o desejo de construir se torne destrutivo: Quer-se ter o outro para si, e não se percebe como isso impede a própria relação com o outro.

Portanto a Paixão é também violenta para com a pessoa que faz de alvo.

É contrária à Vontade. É contrária ao próprio Amor.

E eu, amante da Vontade e do Amor, fui por tantas vezes violento com aqueles que gostava, prendendo-os da forma mais covarde - através de sua própria paixão - e convencendo-os de que aquilo era a própria liberdade.
Tive tanto medo de perdê-los.

Enfim, a Paixão me fez me perder de mim mesmo. Meu individualismo apaixonado me proibiu de ter relações reais; da mesma forma como me impediu de realizar aquelas tarefas que tive Vontade.

Essa forma de Paixão, que esconde e nega o Amor, é fruto da insegurança. É um querer exagerado daquele objeto necessário que nunca (parece que) se vai alcançar. É uma falta (ativa) do Companheirismo real, é o desespero de sair da solidão a que nossas almas estão submetidas.
E cada vez que tentamos a saída individual pra esses problemas, eles se agravam: Quando prendemos numa teia de Paixão aquele que amamos, o perdemos ao mesmo tempo.

O capital nos prende em suas teias, e suas soluções são sempre falsas.

Violências sem tamanho. Mas o capital também nos ensina a naturalizar a violência. Nos ensina a não vê-la. Nos afeiçoa a ela.

Mas existe a solução fora do domínio do capital. Existe a liberdade.
A libertação das amarras Paixão pode nos fazer sentir o Amor e o Companheirismo; e pode nos libertar também a Vontade.

Quem sabe em uma nova sociedade - onde os Humanos sejam livres, e onde reinem a Solidariedade e o Companheirismo - surja uma nova forma de Paixão?

Quem sabe?

sábado, 18 de agosto de 2012

Os amores de meus amores

Como posso demonstrar esse sentimento tão ambíguo?

Ainda sou pessoa formada pelo capital
Ainda quero possuir, ainda morro de ciúmes
Ainda me dóem os pensamentos em que não estou

Mas por outro lado sei que nunca vou possuir ninguém em alma, porque à alma é impossível ser possuída

Então deixo irem meus amores
Ao sabor do mar de suas próprias almas
Sei que vão, e sei que voltam, e sei também que vão pra não mais voltar.

E vejo meus amores, meus grandes amores (Que são meus, meus, meus)
Com seus amores

E como é gostoso vê-los tão felizes!

Os que voltam, e os que não voltam por sua própria vontade
E ainda os que vacilam pelas necessárias vias da moral
É bom vê-los todos, com suas felicidades

E ver que meus amores nunca deixarão de sê-lo, junto com tantos outros amores

E quão gostoso é esse sentimento de, com um amor meu, compartilhar segredos
E agrados, e desagrados
E felicidades e infelicidades tidas com outro amor

Deixando livre meu amor
Serei sempre fadada a deparar com os amores de meus amores

Sentimento ambíguo, pois ainda sou pessoa do capital. Mas sendo ambíguo é bom.
E é só bom!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Breve comentário sobre alienação

O psicólogo de determinada instituição de saúde mental (que é conhecida por alguns como manicômio) é responsável por cuidar de uma média de 300 pacientes internos. Não precisa entender muito do assunto pra imaginar que esse profissional, por mais esforçado e qualificado que seja, não vai conseguir oferecer um serviço de qualidade.

O psocólogo sente na pele como uma situação objetiva pode determinar sua ação, independentemente de sua vontade (ou desejo, ou estímulos internos, ou histórico de condicionamento).

Pois é.

Acontece que esse mesmo psicólogo atribui a seus pacientes desvios e classificações ignorando completamente a situação objetiva em que se encontram.

Não considera sua classe social. Não considera sua situação de exploração no trabalho, ou de violência na família, ou de falta de recursos para suas necessidades básicas. Não diferencia uma criança burguesa com babysitter de uma criança com pais desempregados que vive em uma ocupação.

Simplesmente desconsidera todas as situações objetivas às quais aquele paciente é submetido (incluindo a do próprio manicômio). E atribui à subejtividade (ou aos fatores internos, ou aos conflitos entre desejos, ou ao histórico de condicionamento) todos os seus "problemas" sociais. Ignora até que esses "problemas" podem nem ser problemas.
____

O psicólogo sente na pele como a realidade objetiva pode determinar sua ação.
O psicólogo ignora a realidade objetiva na determinação das ações do paciente.

A formação em Psicologia tenta nos alienar da nossa própria condição.
E consegue.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Uma saudadezinha só..

Queria postar algo aqui no meu blog, dizer como tô animado com tudo o que tá acontecendo. Não sabia bem o que escrever.

Aí entrei no seu blog. É o único blog que costumo checar de vez em quando por atualizações.
Mas ultimamente quando entro lá penso se ainda sei algo sobre você. Penso o que existe ainda de mim lá em meio àquelas todas palavras escritas.

Mas não há nada. Como são diferentes as formas como as pessoas se veem e se relacioanam!

Estou animado. Até nesse pedacinho de tristeza de pensar o quanto nos distanciamos há uma alegria guardada; por ter não só cruzado seu caminho, mas enlaçado ambos os nossos, de forma que às vezes ainda até hoje me confundo.

Acho que só queria dizer que gosto de você. Mas não digo. Não sei mais se você vai entender o que quero dizer.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Ironias na saúde privada

Estava notando esses dias como os médicos que têm consultórios em torno da minha casa receitam fórmulas a ser manipuladas em farmácias especializadas. Ora, entre quatro médicos* que frequentei nos últimos dias em um raio menor de 500m, todos eles me receitaram algo do gênero.

Curioso como na mesma região há duas farmácias de manipulação, e nos consultórios de todos esses médicos há panfletos de propaganda dessas farmácias.

*detalhe que essa quantidade se deve em parte a consultas em que eu entrei, o médico, sem muito tempo para a consulta, mal ouviu sobre meus sintomas. Certa vez quando eu saía do consultório, o médico gritou: "o problema é no pé esquerdo?", quando na verdade era nos dois. (mas o problema não é esse médico, claro. A questão tá muito além disso, como falo um pouco lá embaixo).

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Estive também fazendo alguns exames diagnósticos. O esquema de produtividade é intenso. A única enfermeira responsável por auxiliar em uma série de exames dava conta de retirar os apetrechos de um paciente e colocar esses mesmos no próximo, enquanto o intermediário realizava o exame. E levei algumas broncas da médica que realizava o exame (nem sem muito bem até agora o que eu estava fazendo de errado), porque o exame estava saindo errado e atrasando.

E um fato que achei extremamente curioso foi que o documento para a retirada do exame tinha o formato de autorização - tipo "autorizo fulano a retirar o exame em meu nome". E, claro, anexado havia o panfleto do serviço de motociclistas que realizavam retiradas e entrega de resultados de exames (pasmem, um serviço especializado nisso!!) por dez reais.

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E o melhor é o convênio. Não paga direito pros médicos, pros laboratórios e pra qualquer outra coisa que tenham que pagar (sendo a ponta de toda essa corrente super-produtivista). E não oferecem os serviços que a gente precisa quando a gente precisa. Claro: a partir do momento em que você colocou o dinheiro nos seus bolsos, qual o sentido da sua existência? (desculpem a ambiguidade da frase, mas veio a calhar)

Status: Saindo dos convênios!

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Alguns colegas da área de saúde dizem que a administração em relação à saúde pública hoje está boa, comparando os dados com os da saúde privada.
Mas aí é covardia: qualquer sistema de saúde é melhor do que um em que a saúde é o que menos importa!

E a questão é que o privado (e todas essas vicissitudes) estão cada vez mais dentro do SUS e da saúde pública. Vamos deixar isso acontecer?

sábado, 28 de julho de 2012

Pequenos sinais dos tempos

Essas conversas que tenho com minha prima me fazem cada vez mais acreditar que a identidade e a solidariedade de classe estão mais presentes na nossa consciência do que parece.

E ver um colega que estuda comigo há quatro anos em um curso predominantemente pós-moderno reivindicando a importância de fazer luta política e de participar de uma organização dá mais esperança nessa luta.

Da mesma forma como ver que amigas que divulgavam campanhas contra a greve hoje compartilham imagens denunciando os abusos da PM.

E nada como ver aquela pessoa a quem apresentei minha organização socialista se tornar uma dirigente que é referência nacional (e internacional) dessa organização.

Essas e tantas outras coisas hoje chegam a me emocionar e me fazem ter certeza de que, por mais que tentem evitar, cada dia que passa é um dia a menos para a chegada da revolução!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre o surgimento e propósito desse blog

Esse é um blog que surgiu como uma síntese de alguns processos.
Muitos processos da vida, que pediam uma reflexão não necessariamente sozinha, e não necessariamente acompanhada. A publicação de reflexões me parece um bom meio-termo.

O fato que me fez decidir definitivamente por começar a escrever foi a sugestão do Zé Anézio, que tem um blog e escreve coisas bem interessantes por lá. Ele tem feito uma campanha (encampada por mim!) para que as pessoas tenham blogs, para que possam trocar idéias e formulações sobre coisas.
Afirmo de antemão, para os tementes das tecnologias, não se propõe substituir os encontros e conversas pessoais. Mas a troca de idéias faladas e por escrito têm cada uma sua particularidade e suas potencialidades, e uma não pode ser substituída pela outra (lembro de uma relação fundamental na minha vida que tive com uma pessoa, e uma parte importante dessa relação era a troca de emails). Portanto, vi na construção desse blog uma ferramenta interessante de abrir uma nova forma de troca de idéias com qualquer um que queira pensar e formular sobre variados temas.

Mas esse blog tem um objetivo central.

Nele, vou escrever sobre várias coisas, desde a Psicologia até a Biologia e Física; desde as construções teóricas mais profundas até a prática militante. Mas seu nome não é à toa. "Um modo de vida contra o medo da vida" remete tanto a formulações de Trotsky quanto de W. Reich, dois grandes militantes pelo (digamos em linhas gerais, correndo o risco de sermos imprecisos) bem estar da humanidade. É impossível pensar o bem estar da humanidade sem pensarmos a destruição da estrutura social em que vivemos hoje e a construção de uma sociedade controlada igualmente por todos.
Esse blog pretende ser uma ferramenta de reflexão sobre o modo de vida no capitalismo e suas vicissitudes; assim como de exploração das suas contradições; e de militância por um outro sistema, e por um outro modo de vida.

Os temas como o medo da vida; a luta contra o capitalismo e pelo socialismo; o machismo e a moral sexual.. não serão tratadas nesse post, mas sim de forma mais profunda ao longo do blog, ao longo do tempo.

Sejam bem vindos, comentem, deixem seus endereços de blog e vamos construir juntos conversas e militâncias!
;)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Há algum tempo eu tinha uma amiga que morava em São Paulo
  (nessa época eu morava longe daqui)
Ligava pra ela uma vez por mês. E nossa amizade era forte, se manteve por muito tempo.

Hoje parece que se eu ficar dois dias sem entrar na net as pessoas não saberão mais de mim.
As coisas mudaram? A expectativa das pessoas com suas relações se desenvolve conforme os meios de manter contato avançam?
Ou minha paranóia está protuberante esses tempos?

Às vezes me pergunto se vou saber lidar com as pessoas por muito tempo ainda..

(engraçado que esses sentimentos todos me invadem, ainda que eu tenha duas ou três dessas amizades fortes e eternas, nas quais nenhum tempo é bastante para dissolver a empatia e familiaridade)

Engraçado.
:P

segunda-feira, 23 de julho de 2012