quarta-feira, 22 de abril de 2015

Sobre a violência desse mundo



Hoje quando penso em você só consigo pensar em como a violência desse mundo se reproduz. Só consigo pensar em como são distantes aquelas relações que deviam ser as mais próximas; em como não se pode confiar nas pessoas em que mais se confia. Penso em como a violência que se expressa de forma explícita em alguns poucos momentos percorre nossos sentimentos, nossos corpos e nossos amores silenciosamente em tanto tempo da vida. E não posso deixar de pensar em como esse mundo violento, com suas relações violentas, nos ensina que que amar é, em si, violento.
Hoje quando penso em você só posso pensar como a violência está em cada canto e em cada momento. E como, quando nos esforçamos para fugir dela, damos com ela novamente. Só consigo pensar que, acreditando fugir da violência desse mundo, buscamos o amor e fugimos dele, gritamos e nos silenciamos. E o que quer que façamos a violência sempre parece estar lá.
Hoje não posso não pensar que, fugindo da violência, somos nós que a reproduzimos em nossas relações; que, tentando nos proteger somos nós violentos com nossos amores.

Estive certo de que o amor, que é junto, seria páreo para a violência, que é só. Mas a violência foi tanta que não pude saber lidar. E quando busquei algum amor em ti, quando busquei algo qualquer que me pudesse ajudar a enfrentar a violência... Encontrei. Encontrei teu amor. Mas a própria violência já o havia dominado.
Não soube mais o que fazer. A ideia do teu amor me faz vencer a violência. Mas hoje não posso pensar no seu amor sem sentir a violência que ele me traz. O mundo me violenta, e assim o faz contigo. Nossas relações e nossos amores nos violentam.

Começo a sentir o medo da violência, que me faz também exercê-la. Começo a sentir o ódio. Sinto-me em sintonia com esse mundo violento, com essas relações superficiais, com esse amor odioso, mesquinho, distante, solitário.

Mas me recuso! Se não posso enfrentar a violência desse mundo porque me falta a vida que o amor traz, então escolherei definhar sob tal violência. Recuso-me a fazer parte dela. Recuso-me a me defender sendo ainda mais violenta. Recuso-me a reproduzir essa distância que as pessoas estabelecem entre si. Recuso-me a amar sem amor!
Dói, mas escolhi amar puramente, sem jogos, e sem entrar nessa estereotipia silenciosa e violenta.
Quando houver amor, quando houver o "junto" que pode dar alguma vida contra a violência desse mundo, estarei aqui, pequena, miúda, esmagada sob tanta violência, mas estarei aqui, me recusando a fazer parte dela e esperando que alguém mais também se recuse e possa dividir um pouco do amor, da força, da vida.
Hoje quando penso em você só posso sentir a violência desse mundo. Mas, sorrateira e malandra como é, às vezes a esperança de um mundo não violento aparece em um sonho (que parece cada vez menos distante)... E penso que, quem sabe, pode haver um amor sem violência.

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