sábado, 4 de abril de 2015

No mundo dos homens

Eu não aguento mais ouvir sobre abusos, assédios, sobre o medo, a violência
Não dá mais pra saber e presenciar cenas brutas e absurdas
        Que nos privam da saúde, da socialidade, da vida.
Não posso mais viver essa violência

Hoje chorei ao ouvir um relato de uma situação de brutalidade. Ciúmes. Eram ciúmes.
Como chorei tantas vezes
        Pelas cenas vividas por mim
        Pelas cenas vividas por outras, por minhas amigas, irmãs, desconhecidas

Outras que também não podem caber nesse mundo, que não podem ter suas vontades
Que não podem ser donas de si
Que não podem ter - e nem sequer conhecer - seu próprio prazer, seu corpo, sua alma, sua vida

Não posso mais suportar relações que nos tirem a vontade de viver
Que nos tirem a energia, o brilho, a força para enfrentar a vida, que nos tirem a vontade de tentar, de ir fundo naquilo que nós mesmas somos, naquilo que queremos.
Essas relações hostis, sem companheirismo, sem cumplicidade,
Que se sustentam sobre o medo, a humilhação, a violência.

É tão difícil ver meus amores e minhas irmãs vivendo um medo da vida, e temendo seus próprios desejos, e vendo, como eu vejo, perigo por todo canto.

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Não dá para viver nesse mundo dos homens. Não dá...

Mas estamos aqui. Vivendo. Vivendo sem poder ter a vida.
Estamos aqui, em pleno mundo dos homens.
E, enquanto vivermos aqui, por vezes sucumbiremos. Por vezes nos submeteremos.
Por vezes perderemos a voz e não vamos poder brigar.
E teremos medo, e a incidência do mundo dos homens ainda será tão constante que por vezes simplesmente tentaremos ignorar e tocar em frente o que resta de nós.

Mas resta. E no que resta há vida, há energia, há vontade. No que resta há aquilo que somos.
E naquilo que somos há possibilidade de lutar.

Naquilo que somos há força - e como vejo força nessas mulheres! Há muita força!
E há cumplicidade, companheirismo. E com cumplicidade, companheirismo, há mais força.

E enfrentamos o mundo dos homens, errando, perdendo, mas também resistindo, aprendendo e vencendo.
Sabendo que a brutalidade que há no mundo e que há contra a vida
Não poderá senão ser vencida.

E faremos existir cada vez mais de nós em nós mesmas.
E vamos poder ser, querer, nos jogar, e não mais ter medo.

Vamos ter toda a nossa energia para nós.
Vamos poder viver

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