segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Amores serão sempre amáveis

Não acredito mais no amor.
O amor, no mundo que existe hoje, é uma impossibilidade lógica. O amor só pode existir e se sustentar se existir liberdade para acontecer e se expressar. Ora, é impossível falar de amor de forma verdadeira quando existe uma forma dada e fixa para se comportar e para sentir. O amor só é amor quando é espontâneo, e um comportamento só pode ser subsequente ao amor quando não é estereotipado ou programado por algum tipo de imposição ou restrição moral.
Mas hoje o amor é uma fonte necessária de falta de liberdade. Hoje, a partir do amor - ainda que seja real e espontâneo - , se criam necessidades de estereotipia nos comportamentos, e de restrição dos sentimentos. Em outras palavras, dialeticamente, a própria existência do amor nega sua possibilidade. O capital faz com que a restrição nasça até daquilo que é necessariamente livre.

E não existe quem, individualmente, fuja disso. Por mais que alguém se coloque contra determinados moralismos e se liberte de muitas restrições colocadas por nossa sociedade, ainda somos pessoas do capital, e vivemos em uma sociedade do capital.

(Não é uma saída juntar os amigos e montar um Kibutz de amor-livre. Isso é tão individualista que por si só já mostra como não se libertou da moral do capital. Mas isso merece um texto à parte).

E ainda que alguém individualmente se coloque fora da moral em muitos aspectos (afinal, não vejo como uma possibilidade real sair dela completamente), esse alguém ainda convive com e depende de uma sociedade que cultua essa moral. Por mais que consiga se libertar e expressar um amor honesto, esse amor vai ser combatido pelas próprias circunstâncias de sua expressão.

Os amores que amo, deixo-os para o futuro. Aprendi a amar com restrições. Aprendi a não acreditar no amor. Mas aprendi também a beleza da dialética. E o não acreditar no amor me faz ver como minha luta pelo amor real é factível.
Os amores que hoje existem, estereotipados, contraditórios, restritos, até reprimidos.. esses amores serão vividos fragmentários, e trarão tanta felicidade quanto as contradições permitirem. Mas as contradições mostram as falhas, e as infelicidades estruturais do amor atual podem ser vistas, sentidas, e dão sentido, então, para a luta.
E meus amores de hoje.. muitos deles deixo passar. Dói-me deixá-los, mas é uma dor que me motiva. Sou obrigado à restrição, à estereotipia. E as pratico, como todos. Mas para mim só há sentido nessa dor porque ela me motiva a lutar. E, de minha luta, sei que construirei um amor mais livre, mais solidário. Sei que a luta, não só minha mas de muitos, vai possibilitar o amor real, e criar condições para que a moral não faça do amor uma impossibilidade lógica. E da dor que sinto ao expressar menos o amor hoje nasce a satisfação de que esse amor ainda será amado. Talvez não por mim, mas ainda por mim: será amado.

Todo sentimento que hoje se esconde, se desvia, se reprime, se fragmenta.. todo ele será expresso plenamente. E, cada vez que preciso respirar mais fundo e não me deixar entregar, tenho certeza que os futuros amantes se amarão livremente (e sem saber) todo esse amor que um dia deixei.

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